sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Everything is Illuminated (Tudo se Ilumina) - Jonathan Safran Foer

Tudo se ilumina é uma autoficção polifônica, onde os personagens se misturam com a linguagem, sendo sem duvidas um dos principais personagens. 

Quando terminei de ler Everything is  Illuminated, de certo mondo me senti iluminado, o livro é uma obra pós-moderna de primeiríssima qualidade, Safran Foer, foi corajoso em criar um romance tão envolvente, com uma polifonia delirante, os romance é narrado sobre duas perspectivas, do narrador/personagem Jonathan Safran Foer e do personagem Alexander Perchov Jr, ou Alex seu nome em uma versão mais solta (flaccid-to-utter), além da narrativa ou melhor convencional de Alex, em tentar escrever um romance, temos as cartas que esse envia a Safran Foer. Dentro do romance há um jogo meta-textual da tentativa de escrever um romance, ou seja a genialidade pós-moderna do romance dentro do romance. A narrativa de Safran personagem gira entorno da criação de Trachinbroad, uma vilarejo na Ucrânia onde seu avô Safran foge da perseguição de Judeus durante a segunda guerra, a narrativa de Safran começa no ano de 1791, quando um jovem é resgatado do Broad (rio), que seria um descente de seu avô, o aspecto imaginativo dessa narrativa beira ao realismo fantástico ou mágico latino americano. A outra narrativa é a de Alex, que por sinal é bem criativa e cômica, pois Alex não é muito bom em inglês, Safran Foer utilizou inglês de dicionario, com palavras não muitos usais, que por vez dá um tom cômico ou de duplo sentido a narrativa a Alex, que no inicio do romance, diz que inglês não é um de seus fortes na escola. Essa narrativa ou tentativa de criar um romance, gira entorno da busca de Jonathan Safran Foer (personagem) de Albertina, uma mulher que ajudou seu avô judeu a fugir para os Estados Unidos durante a segunda guerra, e ele quer recompensa-la por isso, pois o ato dela justifica em parte sua existência, com isso ele contrata os serviços da Família Perchov, que são "especializados" em localizar judeus mortos. O avô de Alex que também se chama Alex dize que é cego, ficou assim depois que sua esposa morreu, mas ele não é nada cego, isso é apenas uma desculpa para ter ao seu lado a cadela Samis Davies Jr Jr, relutante no inicio ele sera o motorista e Alex o tradutor. Acontece que a família Perchov, mesmo trabalhando com judeus é extremamente antissemita, Alex chega a afirma que antes de conhecer Safran ele pensava que os Judeus tinha merda na cabeça no lugar de cérebro, a superação desse preconceito é um dos momentos mais emotivos da narrativa. A outra narrativo são as cartas que Alex envia em Safran, sugerindo que dessa busca surgiu uma grande amizade, nessas cartas deixa implícito que Safran auxilia Alex na escrita do romance, pois esse descreve as modificações sugeridas por Safran. 

Tudo se ilumina é incrível, cômico, sensível, emocionante e sobre tudo pós-moderno. O trabalho realizado com a linguagem é incrível, há passagens que a narrativa apresenta uma especie de árvore onde você vai juntando as palavras e formando as frases, simplesmente incrível, o romance constrói e desconstrói-se ao mesmo tempo. Li a obra em inglês, e fiquei me perguntando como o tradutor brasileiro transcriou os jogos linguísticos criado por Jonathan Safran Foer. 



O Romance é uma autoficção pois Jonathan Safran Foer (escritor), foi para a Ucrânia, como parte de sua tese de doutorado, mas ele não encontrou ninguém relacionado a sua família, o autor disse que o livro seria o que ele realmente queria que acontecesse, infelizmente ele não encontrou ninguém. 

O romance foi aptado para o cinema (no Brasil  o título é Uma Vida Iluminada) em 2005 pelas mãos do ator e diretor Liev Schreiber (Dentes de Saber em Wolverine origens), com roteiro dele e de Safran Foer, Safran foi interpretado por Elijah Wood (Frodo), e Alex Perchov por Eugene Hurtz (Vocalista da banda de punk Gogol Bordello). O filme apresenta um tom mais emotivo que o romance, algumas partes foram do livro forma deixadas de lado, principalmente a criação do vilarejo Trachinbroad, e a parte que mais destoa é o encontro com a personagem Lista, porém é igualmente belo e emocionante, a fotografia e a trilha sonora ficou simplesmente incrível. 

Trailer da produção cinematográfica

 
A belíssima trilha sonora, ótima se ouvir durante a leitura  

A edição que li foi da Penguim Uk, com 276 páginas, a fonte é muito pequena, mas não incomodou a leitura, no Brasil é editado pela Rocco (Tudo se Ilumina, 368 páginas), porém a edição encontra-se esgotada a muto tempo o que é uma pena, espero que eles reeditem em breve.








   





               

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Liberdade (Freedom) - Jonathan Franzen

Uma família em crise, as feridas de um atentado e crise ambiental..

Liberdade de Jonathan Franzen gira entorno da família Berglund, uma típica família americana, em todos aspectos. 
Patty é uma ex-esportista, de origem judaica que se casou com Walter, um bom homem, politicamente correto, completo idealista em questões ambientais, junto tem dois filhos Jessica e Joey. Vivem num subúrbio rico de Minessota, na primeira parte do romance, somos apresentados a essa vizinhança, ao conflito de Patty com Joey por esse envolver sexualmente com Connie, filha de sua vizinha Carol. Esse conflito faz com que Joey saia de casa e vá morar com Carol. 
Em seguida o romance passa para um auto-biografia escrita por Patty, por sugestão de seu psiquiatra, onde ela descreve a sua vida nos tempos de colégio, onde foi abusada sexualmente por um colega, a sua relação tempestuosa com sua mãe e suas irmãs, a entrada na universidade, a amizade com uma amiga perturbada, e finalmente quando ela conhece Richard Katz e Walter Berglund. Walter se mostra atraído, mas ela é fisgada por Richard, que a ignora, por motivos pessoais, os quais saberemos ao longo do romance, devido ao menosprezo por parte de Richard ela se relaciona com Walter, casando e constituindo uma família, próximo no inicio dos anos 2000, Richard reaparece com os altos e baixos de sua carreira como músico. Após a descrição desse diário, a narrativa passeia pela perspectivas de Richard, Walter, Joey e novamente a Patty. 
Richard é se esforça para manter uma imagem integra e correta, vemos qual idealista ele é sobre questões morais, quanto a questões ambientais o qual demostra muito conhecimento e paixão, aceita uma trabalho de proteção ambiental de uma especie de ave que corre o risco de entrar para lista de animais com risco de instição, nesse projeto junta-se a ele a bela Lalitha, um jovem e bela indiana que tão idealista quanto ele, Walter se vê em um dilema, entre Lalitha, sua nova paixão e Patty, sua amada esposa e sobre tudo a sua integridade como ser humano. 
Joey já é um jovem que não mede esforço para crescer, porém acredita que sua relação com Connie o impeça de crescer, um relação que ele tenta negar com todas a forças, pois acredita ser superior a ela, mas no fundo ele a ama de verdade. Joey faz escolhas erradas que o afasta de seu pai e de sua mãe manipuladora, mas com erros que comete em sua jornada ele apreende que é o correto. 
Richard é aquele roqueiro quarentão que pensa ser jovem, que age como jovem promiscuo e extremamente solitario, que sucumbe a carreira, mas descobre qual exaustiva e tediosa essa pode ser, muito ligado a Walter, amigo que ele tem como irmão, sempre se vê próximos ao Berglund, ele os ama.
Cada personagem tem que lidar com a liberdade, Patty, Walter e Richard, experimentam da liberdade que não tiveram na juventude, Joey aprende a lidar com a sua própria liberdade, todos de certa forma lidam com a sua liberdade de escolha e a consequências desta. Sobre tudo o romance explora temas como paixão, lealdade, amizade, traição e redenção. 
Um aspecto que chamou muito a atenção no romance e questão ambiental que permeia toda obra, poucas livros de literatura abordam o tema, até então tinha me deparado apenas com Ruido Branco de Don Delillo (ja resenhado). Acho muito importante a atenção empregada a questões ambientais, sobre tudo o crescimento populacional e a utilização de fontes de energia. Além das questões ambientais o romance aborda os atendados de onze de setembro, como esse deixou feridas nas almas dos americanos e guerra no Iraque e as consequências desta. 
Citei Don Delillo, a comparação entre as obras são invitáveis, ambas traçam um feroz painel da sociedade moderna, ambos abordam questões ambientais, ambas obras abordam o "away American life", ambas são um relato incisivo de nosso tempo, dos conflitos, medos e alegrias do "ser" moderno e nossa busca por alguma redenção. 
Sem mais delongas uma obra esplendida. Sim, merece o título do "Grande Romance Americano".

O Romance é editado pela Companhia das Letras, possui duas edições, a normal com orelha (608p) e uma edição econômica sem orelha (608p.)     


Edição Econômica (Sem Orelhas) 

Edição Comum (Com Orelhas)
             

domingo, 4 de outubro de 2015

Amada (Beloved) - Toni Morrison



Amada é um daqueles livros que você ler uma vez na vida, mas o "linger" (gostinho) ira permear por toda a sua existência. A poética de Toni Morrison é simplesmente inesquecível, já faz algum tempo que li, Amada, mas as vezes me pego pensando na personagem Sethe, a sua dura escolha, e as consequências dela.
O enredo gira entorno de Sethe ex-escrava, e um terrível acontecimento que mudou toda a sua vida, Sethe é descrita como uma mulher forte, mas atormentada por um erro que a consome. Abandonada pelos filhos, vive apenas com a casula, Denver, uma jovem muito protegida, que não sabe se virar da porteira para fora de sua casa. Ambas são assombrada por um espirito na casa onde vive, até o dia em que aparece Paul D, ex-escrava vindo de doce lar, a mesma fazenda onde Sethe era escrava, Paul D, luta contra o mal, e traz uma nova esperança para Sethe e sua filha. Porém isso dura pouco, até o momento que o passado bate a porte, ele sempre vem, mais cedo ou mais tarde. Denver no inicio é uma personagem insossa, mas com o desenvolver do romance torna-se mais interessante que a própria Sethe. Os acontecimentos ocorrem no ano 1873, periodo após a guerra civil e a recém abolida escravidão. 
O romance descreve as crueldades do periodo escravocrata americano e as dores pós guerra civil, porém tratada um pouco da bondade humana, da generosidade e do perdão.      
O enredo é belo, há momentos que Toni Morrison me fez crer um pouco na humanidade, porém esse mesmo enrendo belo, ao mesmo tempo que nos encanta, nos assusta, justamente pelo caráter humano. Me pego pensando se tomaria a mesma atitude de Sethe, parece loucura, mas suas escolhas foram fruto de sua experiencias, sempre julgamos o próximo pelo seus atos, mas nuncas observamos as razões pelo qual a atitude é tomada. Vejo Sethe como uma grande mulher, uma mulher negra e bela, uma mulher rara de se ver em literatura, vivo num país onde quase toda população é negra, e nunca vi uma mulher negra como Sethe na literatura brasileira, a mulher negra na literatura é representada como algo risível ou mesmo grotesco, o que é uma pena. A mulher negra é bela, é guerreira, é divina como toda mulher. 
Uma característica importante do romance é o flerte que esse tem com o realismo mágico latino americano, apesar de possuir um cunho bem realista, o Amada apresenta uma fuga sutil ao fantástico, seja na religiosidade de Baby Suggs (sogra de Sethe) ou mesmo na personagem que dá título a obra. Eu acredito que a personagem Amada seja uma alegoria a depressão, a depressão que nos sufoca, que nos consome. Isso traz um caráter de realismo mágico a obra. A linguem também é importante, assim como Faulkner, a linguem depende da perspectiva de quem está narrando, simplesmente genial. 
Toni Morrison foi agraciada com um nobel de literatura em 1993, pelo "...que em romances caracterizados por força visionária e lastro poético, oferece vida a um aspecto essencial da realidade dos Estados Unidos." Para mim ele é uma versão feminina Faulkner, dona de uma narrativa poderosa, de uma poética implacável e sobre tudo inesquecível. 
O romance é editado pela Companhia das letras, possui 368 páginas (edição comum) ou 396 páginas (edição comemorativa).  

Edição Comemorativa 


Edição Comum

terça-feira, 18 de agosto de 2015

[Resenha] Ruído Branco (White Noise) - Don Delillo

Don Delillo é um dos maiores escritores da literatura moderna americana, sobre isso não há dúvidas. Juntamente com Thomas Pynchon e David Foster Wallace, forma a sagrada tríade transgressora do pós-modernista da literatura americana. 

Ruído Branco foi publicado em 1985, Delillo ganhou o premio National Book Awards do mesmo ano por essa obra.

O narrador do livro é Jack Gladney, um professor universitário, casado, vive com a atual esposa Babette, e os três filhos dos casamentos anteriores, leva uma vida típica e medíocre baseada no padrão do sonho americano, vivendo sob a falsa sensação de segurança, de uma estabilidade que não existe, onde a ferrugem corroí pelas beiradas, até que a estrutura cede e vem ao chão, o tipico American Way of life. Jack é professor de Hitlerologia, disciplina criado por ele próprio, tão banal quanto a sua própria vida no subúrbio da pequena cidade do meio oeste onde vivi.

O mal presente, além do ilusório modo de vida é o ruído branco que são constituídos pela sinfonia da modernidade, o som das carretas da auto estrada, os alarmes, a poluição sonora do dia-a-dia, até mesmo como metáfora para nossos pensamentos vazios, frutos do estilo de vida consumista e fútil. 

A família de Jack é representada como uma família com pouca interação, onde a relação familiar está sempre em segundo plano, as crianças parecem mais inteligente e adaptadas a cultura moderna dos que os adultos. Heinrich é um personagem que se mostra muito inteligente, apresenta um hobbie interessante, joga xadrez pelos correios com um detento. 

Na segunda parte do livro, ocorre uma catástrofe ambiental, onde sub-produtos da industria vaza para atmosfera formando uma nuvem letal. Jack reúne sua família, e foge desesperadamente da nuvem toxica. Nessa parte do romance refletimos bem sobre a questões ambientais, gostei dessa abordagem, raramente se vê em um livro ficcional, mesmo escrito 1985, o livro continua moderno, outro dia mesmo li no jornal que uma escola de São Paulo em Guarulhos, alunos e professores estão adoecendo, devido uma contaminação por metais pesados, próximo a escola há um rio que esta contaminado por cobre, mercúrio e arsênio, provavelmente vapores de água contento esses metais pesados estão contaminado os funcionários, professores e alunos . Semelhante a esse caso, na cidade de Paracatu, centenas de pessoas desenvolveram problemas respiratório , inclusive câncer, a causa também se deu por contaminação por arsênio, devido atividades de uma mineração.  

A partir desse momento a paranoia urbana se inicia, sendo essa uma caraterística do romance pós-modernista americano. Jack tem que lidar com a cidade pós desastre, e consigo mesmo, com seus medos, paranoias e perdas. 

A narrativa é muito bem construída, prende o leitor. Uma sensação de nonsense repercute em todo livro, em Jack por exemplo percebe-se um tom de alienação e conformação. O livro apresenta uma forte critica ao estilo consumista, a cultura e alienado. Também nos alerta sobre questões ambientais, como somos impotentes perante as adversidades do meio, nada é capaz de nos salvar, da falsa sensação de segurança que a modernidade nos obriga a engolir, uma segurança que não existe. 

O livro é ótimo, tornou-se um dos meus livros favoritos. 

O Romance é editado pela companhia das letras. Possui 320 páginas. Acabamento em brochura.